terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"Se te pareço
noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim,como se tu me olhasses.

E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é
E deslizando arpeanas,
sem nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra...

Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento..."


Hilda Hilst


*


"Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo.
Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?"

(Hilda Hilst, in "Do Desejo")

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